Quando as palavras machucam
Durante a fase da adolescência, minha veia poética e literária não me dava tréguas. Eu gostava muito de escrever, de fazer redações e poemas para as meninas da minha geração e, acima de tudo, adorava um elogio em relação ao que escrevia.
Certo dia eu quis compartilhar o sonho de ser um escritor famoso, mas por razões que não vale a pena questionar agora, alguém pronunciou esse infeliz comentário: – escritor, tá louco? Você quer morrer de fome?
A partir daquele momento, o sonho morreu temporariamente dentro de mim. Foram necessários quase 20 anos para eu resgatar a minha veia literária e retomar aquilo que, no fundo, nunca me abandonou. Contudo, ninguém recupera 20 anos em 20 dias.
As palavras afetam a nossa personalidade desde o momento em que nascemos, na forma como somos tratados, com as pequenas frases que ouvimos mesmo sem entender nada, o primeiro grito que ecoa no seu ouvido.
Da mesma forma, o primeiro elogio, as chamadas e os puxões de orelhas mais intensos exercem certo poder de influência que transcende a capacidade humana de absorção e entendimento. Por outro lado, as consequências são visíveis.
Milhares de gerações não foram suficientes para as pessoas entenderem o quanto as palavras podem ferir mais do que gestos e ações, exceto para aquelas desprovidas de hormônios e sangue nas veias. Por isso eu não me canso de repetir: tome cuidado com as palavras.
No mundo corporativo isso é visível, em pleno século 21. Muitos profissionais em cargos de liderança ainda não perceberam o quanto as palavras são capazes de influenciar, de maneira positiva ou negativa, o estado de ânimo, a participação, a carreira e até mesmo a vida inteira de uma pessoa.
Toda semana eu recebo e-mails de alunos e leitores contando exemplos grosseiros de comportamento inadequado e falta de sensibilidade por parte de líderes, professores, empresários e outros que se julgam superiores aos demais na face da Terra.
Ao partir de alguém que deveria dar o exemplo, a pseudo-superioridade é o caminho para o deslize constante e isso acaba sendo incorporado pela pessoa. Quando ela tenta consertar é tarde, pois o estrago está feito.
O ser humano é altamente influenciável por palavras, gestos, exemplos e omissões. Na medida em que recebe uma carga negativa, seja qual for o meio, a reação tende a ser imediata pela verbalização ou agressão física.
Por conta disso, profissionais capacitados são demitidos, casamentos são destruídos, empresas são fechadas, pessoas são violentadas moral e fisicamente. Na maioria dos casos, a cultura da réplica – olho por olho, dente por dente – agrava e conduz determinadas situações a finais desagradáveis.
Quando as palavras fazem bem
Se você disser que as palavras não lhe afetam e se isso for sincero de sua parte, deixo aqui os meus parabéns. A experiência me diz que a realidade é bem diferente. Assim como a autoestima do ser humano oscila com frequência, um simples comentário despretensioso provoca estragos terríveis.
Ralph Waldo Emerson, pensador norteamericano, dizia que a mente humana é um museu de verdades contraditórias. Entre outras coisas, significa dizer que é necessário ser bem resolvido para não se deixar afetar pelas bobagens que você ouve com frequência maior do que a desejada.
Pessoas que estão acostumadas a falar mal, rotular, criticar e pensar que as demais estão num nível bem inferior ainda têm muito que aprender, embora seja difícil para elas admitir o fato. Elas se sentem num nível tão elevado que nada será capaz de lhes arrancar a máscara social.
Por outro lado, pessoas polidas, educadas no sentido literal da palavra, e capazes de estabelecer uma crítica que beira o elogio são difíceis de encontrar. O mundo não dá muito espaço para elas, afinal, a regra básica do mercado é crescer a qualquer custo.
Infelizmente, ainda que para crescer seja necessário atropelar os colegas, ferir seus sentimentos, tratá-los como se fossem números e sugá-los ao máximo, há quem não se importe muito com isso.
Apesar de tudo, se você não quer fazer parte da massa que se vangloria de falar o que bem entende na esperança de ser proclamado autêntico, tome cuidado com as palavras.
Dependendo de como são escritas ou pronunciadas, as palavras atingem diferentes estados de espírito e, como você já está cansado de saber, as pessoas, por sua vez, são sensíveis e influenciáveis.
Dizer para você não se importar com isso é bobagem. Cada pessoa reage à sua maneira a um elogio ou crítica, portanto, quando conversar com alguém, lembre-se de que suas palavras podem ser determinantes no futuro dela.
Como utilizar o poder das palavras para ajudar as pessoas
Como você pode utilizar o poder das palavras para ajudar as pessoas a crescerem, se desenvolverem e se tornarem melhores em suas vidas pessoais e profissionais? Aqui vão algumas dicas de como fazer isso de maneira mais técnica e profissional:
- Comunicação empática: pratique mais a empatia em suas conversas. Ouça ativamente e demonstre compreensão pelos sentimentos e experiências das pessoas. Use palavras que validem seus sentimentos e demonstrem apoio.
- Feedback construtivo: ao fornecer feedback, seja específico e construtivo. Destaque os pontos fortes da pessoa, mas também aponte áreas onde ela pode melhorar. Use linguagem positiva e sugira maneiras concretas de progredir.
- Inspirar e Motivar: utilize palavras que inspirem e motivem as pessoas a alcançarem seu potencial máximo. Compartilhe histórias de sucesso, cite exemplos inspiradores e use linguagem que transmita confiança, esperança e otimismo.
- Encorajamento: encoraje as pessoas a saírem da zona de conforto e a enfrentarem desafios. Use palavras de encorajamento para ajudá-las a superar obstáculos e acreditar em si mesmas.
- Educação e informação: compartilhe conhecimento e informações relevantes que possam ajudar as pessoas a crescerem e se desenvolverem em suas áreas de interesse. Utilize uma linguagem clara e acessível para garantir que todos possam entender e se beneficiar.
- Construção de relacionamentos: use palavras que fortaleçam os relacionamentos interpessoais. Seja gentil, respeitoso e demonstre apreço pelas pessoas ao seu redor. Mostre interesse genuíno em seu bem-estar e sucesso.
- Modelagem de comportamento positivo: Seja o exemplo vivo do tipo de pessoa que você gostaria que os outros se tornassem. Use palavras que reflitam seus valores e princípios, e demonstre comportamentos positivos em todas as interações.
- Estabelecimento de metas e desafios: ajude as pessoas a estabelecerem metas claras e alcançáveis, e use palavras que as incentivem a perseguir esses objetivos. Celebre seus sucessos e motive-as a continuar avançando.
- Resolução de conflitos: ao lidar com conflitos, utilize palavras que promovam a compreensão mútua e a busca por soluções colaborativas. Evite linguagem inflamatória e trabalhe para encontrar um terreno comum.
- Autoconhecimento e autoestima: Ajude as pessoas a desenvolverem um maior autoconhecimento e autoestima, usando palavras que as incentivem a reconhecerem suas próprias qualidades e acreditarem em seu próprio valor.
Por fim, lembre-se: se não for para dizer coisas agradáveis e sinceras, no sentido de fazer as pessoas crescerem, não diga nada. Como diria Gandhi, o homem arruína mais as coisas com as palavras do que com o silêncio. Pense nisso e seja bem mais feliz!
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