O ser dissimulado
Toda vez que eu penso que essa criatura foi eliminada da face da Terra, alguém me conta uma infeliz experiência vivenciada com aquele que se pode chamar de dissimulado. Nunca se descuide dele embora seja difícil identificá-lo por meio de um simples olhar.
Dissimulados são como bactérias e, quando você menos imagina, eles tentam aproveitar-se da sua baixa imunidade para desferir o golpe fatal. Trata-se de um golpe indolor no corpo, mas de efeito devastador na alma.
Quem é o ser dissimulado? Aquele que tem o hábito de enganar, mentir, rir da desgraça alheia, tripudiar às escondidas e utilizar a hipocrisia com facilidade ainda que lhe pareça a criatura mais dócil e educada do mundo.
O dissimulado é capaz de rir e chorar junto contigo. Seus objetivos são claros. Com a mesma sutileza, ele consegue puxar o seu tapete e enxugar suas lágrimas depois da queda. O mundo mudou, porém os dissimulados resistem há séculos. Eles se adaptam facilmente, é questão de sobrevivência.
Dissimulado que se preze tem cara de anjo e fala mansa. É prestativo e demonstra grande interesse pelas coisas que você faz e diz, entretanto, todo cuidado é pouco. O dissimulado é capaz de matar mãe para não perder uma festa de órfãos, como diria um amigo meu.
Digo isso por experiência própria. Convivi com dezenas deles por várias empresas onde passei. Hoje, consigo identificá-los com mais facilidade do que no passado. Dia desses encontrei um deles no restaurante. Sorriu e acenou com a mesma cara de pau com que puxou o meu tapete há alguns anos.
Em resumo, uma pessoa dissimulada é alguém que esconde suas verdadeiras intenções, emoções ou pensamentos por trás de uma aparência falsa ou enganosa. Essa pessoa muitas vezes age de maneira astuta, apresentando uma imagem que não reflete sua verdadeira natureza.
A dissimulação envolve manipulação consciente para enganar os outros, muitas vezes com o objetivo de alcançar seus próprios interesses ou evitar confrontos. Essa característica pode se manifestar em diferentes contextos, como relacionamentos pessoais, profissionais ou sociais.
É importante lembrar que a dissimulação geralmente envolve uma falta de transparência e sinceridade, prejudicando a confiança nas relações interpessoais.
O grande problema do dissimulado é que, para atingir seus objetivos, ele não escolhe hora nem local para destilar o seu veneno. Sua língua ferina não consegue se conter. Mais dia, menos dia, ele acaba dizendo o que não deve para quem não deve e quando não deve.
O ruim de tudo isso é a convivência com o dissimulado. Por vezes, é necessário ser tão hipócrita quanto ele, porém não fomos treinados para isso. Dá vontade de torcer o pescoço em vez de lhe apertar a mão e devolver o mesmo sorriso hipócrita. Nem todos conseguem, mas o desgaste é menor.
O melhor de tudo isso é que quando você atinge determinado nível de maturidade e relacionamento, não é necessário descobri-los. Eles chegam até você por intermédio de fontes inesperadas e confiáveis. O excesso de confiança aumenta a possibilidade de o dissimulado cometer deslizes.
Com o tempo e a experiência você aprende a se prevenir contra eles, por meio de atitudes sensatas, não de conluios ou informantes, caso contrário, você pode ficar paranoico. Não existe nada mais depressivo do que ficar imaginando ou tentado descobrir os que os outros estão dizendo a seu respeito.
Como lidar com gente dissimulada
Apesar da experiência, reconheço que não é fácil livrar-se deles. Vez por outra aparece um ou outro no caminho e o máximo que consigo fazer é ignorá-los, não por completo, isso é impossível. Tomo apenas o devido cuidado para não ferir os meus princípios ao tentar agir de igual para igual, o que não é tão simples.
Aqui estão 10 maneiras de lidar com gente dissimulada, embora isso não garanta o sucesso absoluto, justamente por se tratar de pessoas complexas e difíceis de se adaptarem ao senso comum.
- Mantenha a calma: isso é fundamental ao lidar com pessoas dissimuladas. Evite reações impulsivas ou emocionais, pois isso pode ser exatamente o que a pessoa dissimulada está buscando.
- Observe e avalie: esteja atento aos padrões de comportamento da pessoa. Observe suas ações ao longo do tempo para identificar consistências ou inconsistências em seu comportamento.
- Estabeleça limites claros: defina limites claros em seus relacionamentos e esteja disposto a comunicar de forma assertiva o que é aceitável e o que não é. Isso pode ajudar a proteger você de possíveis manipulações.
- Converse de forma direta: quando apropriado, pratique a assertividade, tenha conversas diretas e honestas com a pessoa. Expresse suas preocupações de maneira calma e construtiva, focando nos comportamentos específicos que estão causando desconforto.
- Confie em seus instintos: se algo parece fora do lugar ou se você sente que está sendo manipulado, confie em seus instintos. Isso não significa agir impulsivamente, mas sim estar atento às suas intuições.
- Crie alianças com pessoas confiáveis: desenvolva relações com pessoas que você sabe que são confiáveis e transparentes. Isso pode fornecer um apoio emocional e prático ao lidar com indivíduos dissimulados.
- Proteja suas informações pessoais: evite compartilhar informações sensíveis ou confidenciais com pessoas que você suspeita serem dissimuladas. Proteger suas próprias fronteiras é essencial.
- Aprenda a dizer não: seja firme em dizer “não” quando necessário. Pessoas dissimuladas podem tentar explorar a bondade ou a disponibilidade dos outros, e é importante estabelecer limites saudáveis.
- Busque apoio profissional: se a situação se tornar muito difícil de gerenciar sozinho, considere buscar a orientação de um profissional, como um terapeuta, para ajudar a lidar com as complexidades do relacionamento.
- Ignore: em último caso e dentro do possível, ignore; por vezes, é impossível, mas na maioria das vezes, é inevitável, e a melhor forma de manter a própria sanidade mental. Se você levar muito a sério, acaba doente e nunca será capaz de resolver o problema.
Todo ser humano tem um pouco de dissimulação. Para fugir do estigma seria necessário dizer exatamente o que se pensa e para isso você precisa estar seguro de si. Quem diz o que pensa sem pensar no que diz corre o risco de ser rotulado, mesmo mantendo os princípios.
Isso não é bom nem ruim e depende da sua cultura, mas existe um peso a ser carregado. Pessoas serenas, sensatas, equilibradas e dignas da admiração alheia conseguem ignorar qualquer princípio de dissimulação. Lembre-se da sabedoria dos monges: nada pode me atingir se eu mesmo não quiser.
Os dissimulados são fracos de espírito e não fazem a mínima ideia da carga que colocam sobre os outros, mesmo considerando que o volume de mentiras a ser criado para sustentar a própria máscara tende a ser cada vez maior. E como diz o ditado, mais dia, menos dia, a máscara cai.
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