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Feedback de compensação: o que isso tem a ver com você?

Feedback de compensação: a origem do termo

No clássico A Revolução dos Bichos, do escritor inglês George Orwell, o cavalo Boxer tinha sempre a mesma resposta para qualquer grau de dificuldade: vou trabalhar ainda mais. No dia seguinte, Boxer se levantava ainda mais cedo, na tentativa de fazer o seu trabalho compensar a queda da produtividade na fazenda.

Inicialmente, a boa intenção de Boxer serviu de motivação para todos os animais da fazenda, mas, aos poucos, seu esforço começou a gerar consequências de maneira sutil sem que percebesse. Quanto mais trabalhava, mais trabalho surgia na manhã seguinte.

O que Boxer demorou a perceber é que os porcos que administravam a fazenda, Napoleão e Bola de Neve, entre outros, estavam manipulando todos os animais em benefício próprio. Assim, a boa vontade de Boxer impedia que os outros animais percebessem o que estava acontecendo.

Em pensamento sistêmico, esse fenômeno tem o nome de feedback de compensação, ou seja, quanto mais você se esforça para resolver um problema, mais envolvimento e esforço ele exige. Na prática, quanto mais você empurra, mais o sistema empurra de volta. Ação e reação.

Feedback de Compensação
Imagem criada por IA (Bing)

No Brasil, esse fenômeno foi visível a partir da década de 1970, com os investimentos maciços do governo em infraestrutura e urbanização. Até a década de 1940, o Brasil era praticamente uma sociedade rural.

Na época, a população do girava em torno de 40 milhões de habitantes e sete em cada dez brasileiros moravam ou estavam relacionados, de alguma maneira, com atividades agrícolas.

Mais de 30 anos depois das primeiras iniciativas do governo militar, o Censo Demográfico do ano 2000 demonstrou que a relação se inverteu, ou seja, cerca de 80% dos 170 milhões de brasileiros passaram a viver em cidades.

Desse total, 70 milhões estavam aglomerados em 22 regiões metropolitanas, sujeitos a todas as causas e consequências negativas proporcionadas pelo êxtase demográfico.

Dessa forma, tivemos um exemplo clássico do que significa feedback de compensação. Muitas das intervenções bem-intencionadas do governo transformaram-se em vítimas das suas boas intenções e o país passou a enfrentar um novo tipo de problema: o caos urbano provocado pela concentração de pessoas nas regiões metropolitanas.

As consequências são visíveis: acesso precário aos serviços de saúde, ausência de vagas nas escolas, falta de moradias, precariedade do sistema de saneamento básico, poluição, trânsito carregado, desemprego e a violência. Em pouco tempo, a hostilidade da vizinhança passa a fazer parte de quem trocou a pacata vida no campo por uma remota chance de prosperar em meio ao caos das grandes cidades.

De acordo com Peter Senge, autor do bestseller A Quinta Disciplina, feedback de compensação refere-se à capacidade de um sistema de autorregular-se em resposta a mudanças, visando manter ou retornar a um estado de equilíbrio ou objetivo.

Feedback de compensação no mundo corporativo

Esse fenômeno também é comum no trabalho. Imagine um recém-formado, cheio de ideias e energia, admitido para trabalhar numa organização do serviço público ou mesmo privado.

Num primeiro momento, a vontade de crescer é tanta que a pessoa deseja revolucionar a forma de trabalho. A recepção é boa, suas ideias também. Ela constata que o ambiente é propício para mudanças na organização, segundo o que foi ensinado na faculdade: estratégia, finanças, pessoas etc.

Semelhante aos animais da fazenda criados por Orwell, aos poucos a pessoa vai encontrando algumas personagens como Sansão e Quitéria, Bola de Neve, Garganta e Napoleão, Mimosa e Maricota, e o próprio Sr. Jones, o dono da propriedade.

No mundo corporativo e, principalmente, no político, existem muitos animais tentando sobreviver e tirar alguma vantagem do sistema, um pouco mais civilizados, é claro.

Enquanto você não mede esforços para colocar suas ideias em prática, haverá sempre alguém tentando dissuadi-lo ou boicotá-lo, e aos poucos você vai substituindo a impetuosidade juvenil pela incômoda acomodação senil.

Na medida em que você vai sendo moldado ao sistema, concentra-se ainda mais em agradar os colegas e vai perdendo a essência e a coragem de mudar as coisas. Se insistir nas críticas, acaba ressentido e até rotulado como uma pessoa difícil de se trabalhar.

O quer significa tudo isso? Quando seus esforços iniciais para mudar o status quo não proporcionam resultados duradouros, acabam contribuindo ainda mais para o fortalecimento dos mesmos obstáculos.

Imagine aquela pessoa que para de fumar, engorda, perde sua autoestima e para recuperá-la e aliviar o estresse, volta a fumar com mais intensidade.

Isso vale para o viciado, a mãe superprotetora que quer o filho sempre perto de si, o pai repressor que acredita fazê-lo para educar o filho. Vale também para o político que deseja apenas um pouco de grana para melhorar de vida, mas acaba envolvido em mais escândalos do que consegue dar conta.

A tendência do ser humano é encontrar um culpado. Pode ser o pai, a mãe, alguém lá fora, a imprensa, a concorrência, a economia, o governo, o chefe ou a empresa que só pensa em vender. É bem mais fácil empurrar a culpa do que enfrentar o problema.

A grande verdade de tudo isso é que não existem culpados. Como afirmou Senge, você e a causa de seus problemas fazem parte de um único sistema. A cura está no seu relacionamento com o inimigo.

Portanto, de uma forma ou de outra, a responsabilidade de mudar tudo isso está sempre em suas mãos, principalmente quando você ocupa um cargo de liderança e tem o poder, a responsabilidade e, de certa forma, a obrigação de influenciar as pessoas.

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Quer saber mais? Leia o meu artigo O que é pensamento sistêmico?

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