O conceito de empresa familiar
Sucessão na empresa familiar é sempre uma questão delicadas, porém, antes de aprofundar o assunto, é importante entende o conceito. Empresa familiar é aquela em que a propriedade e a gestão estão nas mãos de uma ou mais famílias. Geralmente, é fundada por um membro da família e, ao longo do tempo, outros membros da família se juntam à empresa em posições de liderança ou como proprietários.
As empresas familiares podem ter vantagens, como a lealdade e o comprometimento dos membros da família em relação à empresa, bem como a capacidade de tomar decisões rapidamente e com flexibilidade. No entanto, podem apresentar desafios, como conflitos entre os membros da família, dificuldades em separar os assuntos pessoais dos negócios e a falta de diversidade de perspectivas e habilidades de gestão.
Devido às características únicas, as empresas familiares requerem abordagens de gestão específicas para garantir o sucesso a longo prazo. É importante que as empresas familiares estabeleçam políticas claras para lidar com questões como a sucessão, a propriedade e a governança, a fim de minimizar conflitos e garantir a continuidade da empresa.
De acordo com Stephen Kanitz, a relação pai e filho (a) na empresa familiar é uma relação delicada, que pode quebrar a empresa, motivo pelo qual a gestão deve ser levada a sério.
Existem empresas com características de empresa familiar, porém não são, necessariamente, formadas por membros da mesma família. O modelo de gestão adotado tende a ser mais informal, típico de empresas em estágio de desenvolvimento, sem os métodos que consolidam as grandes empresas.
Caraterísticas da empresa familiar
As empresas familiares possuem características típicas do seu segmento. Vejamos algumas:
- Propriedade e gestão controladas pela família: nas empresas familiares, a propriedade e o controle da gestão são mantidos pela família fundadora ou seus membros. Isso significa que os membros da família têm uma influência significativa nas decisões estratégicas e operacionais da empresa.
- Orientação para o longo prazo: elas geralmente têm uma perspectiva de longo prazo em relação ao sucesso da empresa e procuram construir um legado para preservar o patrimônio familiar, em vez de maximizar o lucro a curto prazo.
- Valores e cultura distintos: empresas familiares costumam ter valores e cultura distintos que refletem as crenças e tradições da família fundadora. Esses valores podem incluir a ética nos negócios, valores e princípios e a importância da família e da comunidade, entre outros.
- Conflito entre a família e os negócios: empresas familiares enfrentam desafios únicos relacionados à gestão dos relacionamentos entre membros da família e a empresa. Conflitos pessoais podem afetar o desempenho dos negócios, e decisões difíceis podem ser influenciadas por relações pessoais.
- Sucessão e continuidade: essa é uma questão crítica para as empresas familiares, pois afeta diretamente a continuidade do negócio. A escolha do sucessor, a transferência de propriedade e a transição de liderança podem ser complexas e emotivas e requerem um planejamento cuidadoso para garantir uma transição bem-sucedida.
Processo de sucessão na empresa familiar
Uma das maiores dificuldades dos gestores da empresa familiar, em qualquer época, é admitir o fato de que a energia vital que o ajudou a construir um empreendimento de sucesso já não garante os mesmos efeitos do passado, portanto, é hora de transferir o comando e assumir um novo desafio.
Quando isso ocorre, são poucos aqueles que o fazem movidos por um novo ideal de vida, conscientes da necessidade de um processo de sucessão familiar, ou ainda da contratação de um executivo de mercado capaz de dar continuidade ao ciclo de prosperidade iniciado por eles.
Muitos relutam até o último instante, quando são surpreendidos por uma situação financeira irreversível ou por uma doença que os obriga a tirar o pé do acelerador e repensar a trajetória de vida. Na prática, eles são movidos por um misto de orgulho e insegurança, ego inflado e a cruel incerteza de que o negócio sobrevive sem eles.
Convicções dessa natureza são nocivas para empresas e empresários. Em nome de uma história bem-sucedida, a qual não se sustenta sem renovação e adoção de novas estratégias de mercado, a maioria imprime sua “mão-de-ferro”, recusa qualquer tipo de ajuda e ignora princípios universais da gestão, ensinados nas Universidades mais prestigiadas do mundo.
Por trás de qualquer empresário existe o ser humano. E este é, por excelência, um indivíduo que possui metas elevadas. Suas metas são constantemente redefinidas em níveis cada vez mais altos, de acordo com a sua ambição, muitas vezes, sem limites.
Assim, os empresários estão sempre tentando alcançar o dobro daquilo que possuem, mesmo sabendo que nada disso irá acompanhá-los além da vida terrena. Para atingir esse objetivo, eles precisam de mais tempo no comando, mais exposição na mídia e atenção das pessoas que se dispõem a reverenciá-los.
Apesar de ser um direito legítimo do fundador, a insistência no comando coloca centenas de empregos e outras centenas de vidas em perigo, além do futuro da organização. Naturalmente, após determinada fase da vida, as faculdades físicas e mentais vão se deteriorando, e com elas se deterioram também os métodos de gestão, os valores, os conceitos e as regras do passado.
Resolver esse dilema, permanência versus transferência de comando, não é tarefa fácil. No caso do serviço público, funcionários são obrigados a retirar-se por lei, mediante aposentadoria compulsória. Quando o fazem, ainda lhes resta o consolo de uma aposentadoria diferenciada dos demais mortais no Brasil, em muitos casos com direito a salário integral e plano de saúde, por conta do erário.
No caso das empresas familiares, alguns são “aposentados” pelo Conselho de Administração, quando existe, e outros são “aposentados” com a morte compulsória, fato que acaba gerando transtornos ainda maiores para a família, por falta de um processo de sucessão bem conduzido em vida.
De acordo com Erick Erikson, renomado psicólogo da Universidade de Harvard, um dos estágios de desenvolvimento de interesse, nesse caso, é o que ele chama de Integridade versus Desespero. Trata-se do último estágio da vida.
Ao tomar consciência de que o fim está próximo, existem duas opções: 1) o indivíduo se sente íntegro, realizado, então ele admite que a vida foi plena, digna e bem aproveitada; 2) dependendo da idade e da conduta adotada, ele se desespera, porque o tempo de vida que ainda lhe resta será insuficiente para realizar tudo o que prometeu a si mesmo, à família e à sociedade.
O processo de sucessão na empresa familiar e a busca de um novo desafio capaz de revigorar os empresários demandam por planejamento e amadurecimento. Quando conduzido de maneira equivocada, pode representar total fracasso para o fundador e isso dificultará ainda mais a transição.
Regras essenciais para uma boa sucessão na empresa familiar
Para não incorrer no mesmo erro e evitar o desespero, compartilho aqui algumas lições obtidas com a experiência de vivenciar e estudar diversos processos de sucessão familiar, como: Grupo Pão Açúcar, Gerdau, Votorantim, Klabin e O Boticário. É o mínimo que se deve fazer para conduzir a transição de maneira correta, sem colocar em risco a saúde e o patrimônio da família. Vejamos;
- Estimule a nova geração a empreender: não dê o peixe, mas ensine a pescar; apoie a iniciativa de um novo empreendimento, moral e psicologicamente, em vez de empurrar filhos e parentes para dentro da empresa;
- Defina as regras de participação da família na empresa: como será o processo de sucessão, sob que condições, em quais circunstâncias, por quanto tempo;
- Elabore um plano de desenvolvimento profissional para os membros da família: estimule-os a estudar, cursar MBA no exterior; capacite-os para assumir cargos e funções estratégicas na empresa; nunca dê a eles o cargo mais importante da empresa sem a devida experiência; isso pode ser fatal para os negócios.
- Não ignore a importância do planejamento estratégico: um dos pecados capitais dos empresários, descuidar-se da estratégia, do crescimento sustentado, da visão e da missão familiar;
- Estabeleça um plano de aposentadoria: busque um novo desafio, uma nova missão de vida, uma forma digna de passar o comando com o sentimento da vitória; a sucessão é apenas um passo para uma nova etapa da vida, comum a todas as empresas e empresários;
- Crie um bom Conselho de Administração: se os membros da família não demonstram interesse nem condições de assumir a empresa, seja rápido, entregue o comando para um profissional do mercado e crie um Conselho de Administração ativo que inclua membros do Conselho de Família e assessores experientes e de confiança;
- Contrate uma boa empresa para conduzir o processo de transição: existem centenas de variáveis a considerar, portanto, seja humilde e bote os pés no chão; você não domina tudo e vai precisar de ajuda para colocar as coisas no seu devido lugar, de maneira imparcial e transparente com os membros da família.
Não é a fórmula ideal, considerando as particularidades de cada empresa ou família, entretanto, é o mínimo a ser levado em conta para evitar o caos. Aliado a isso, a consciência de que os sucessores, filhos ou não, poderão administrar ainda melhor, se houver desapego e entrega consciente das obrigações, é fundamental no processo.
Depois de um tempo, a continuidade dos negócios passa a não depender mais da exclusiva vontade do empresário. Decisões mais estratégicas dependerão sempre do Conselho e do consenso. Esse simples fato mexe com o coração e com a cabeça do empresário, portanto, precisa ser trabalhado internamente.
Por fim, se as grandes multinacionais espalhadas ao redor do mundo conseguem administrar seus negócios a 10 mil quilômetros de distância, por que razão o empresário de uma empresa familiar não poderia? Para pensar a respeito.
Gostou? Comente, compartilhe, retribua por todo conhecimento adquirido.
Quer saber mais? Leia o meu artigo O mito da empresa familiar
Conheça o meu Canal no Youtube. Clique em Jerônimo Mendes
Visite minha página na Amazon e conheça meus livros: Livros Jeronimo
Conheça minhas Palestras e Treinamentos
